Alunos de Engenharia montam avião em concurso


Estudantes de Engenharia Mecânica montaram uma aeronave cargueira radiocontrolada em escala reduzida. Foto: Divulgação
Estudantes de Engenharia Mecânica montaram uma aeronave cargueira radiocontrolada em escala reduzida

Luiz Cláudio Cardoso e sua equipe de mais oito pessoas e um professor receberam uma missão em janeiro passado: montar uma aeronave cargueira radiocontrolada em escala reduzida. Ou seja, um avião. Obviamente um bem menor que aqueles que vemos no aeroporto, mas ainda assim, um grande desafio.

Estudantes de Engenharia Mecânica, eles participaram da XII Competição SAE BRASIL AeroDesign, que obteve 96 equipes inscritas e foram campeões na categoria mais concorrida, em que concorreram com outras 72 equipes. É a Classe Regular, quando os aviões são monomotores, com cilindrada padronizada em 10 cm ³. O regulamento ainda impõe restrições geométricas que delimitam as dimensões máximas das aeronaves.
O evento contabilizou 1,3 mil participantes, que projetaram e construíram aeronaves radiocontroladas exclusivamente para isso. O campeonato ocorreu no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), em São José dos Campos, em São Paulo. Lá, a equipe Tucano, de Cardoso, teve que competir com universitários de 79 instituições de ensino superior do Brasil, Venezuela, México, Estados Unidos e índia. Organizado pela Seção Regional São José dos Campos da SAE BRASIL, o Projeto AeroDesign é um programa de fins educacionais que tem como principal objetivo proporcionar a difusão e o intercâmbio de técnicas e conhecimentos de Engenharia Aeronáutica entre estudantes e futuros profissionais da engenharia da mobilidade.
As provas foram em outubro, mas a preparação para a vitória começou na virada do ano. É que em 5 de janeiro de 2010, a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) disponibiliza o regulamento da competição daquele ano, que conta sempre com novas regras e limitações de projeto. A partir dessa data, os estudantes devem produzir um relatório explicando em detalhes a sua ideia, que será corrigido em julho pelos engenheiros da Embraer. "Durante esse tempo, já tem que começar já a construir o avião, para ver se aquela tua ideia funciona na prática", aconselha Cardoso, porque, depois de enviado o relatório, o projeto não pode ser alterado.
Para um trabalho tão grande e complicado e envolvendo tanta gente, é necessário uma boa divisão de tarefas. Cardoso conta que ele e os seus colegas separaram-se por áreas, como a aerodinâmica da aeronave, a estabilidade, o desempenho e a estrutura, além da formulação do projeto a ser enviado e - o que não tem relação com a Engenharia, mas não poderia faltar - o marketing. É que patrocínio é fundamental para que todo esse esforço seja concretizado. "Você tem que vender a sua ideia, mostrar que o projeto é bom para que financiem o avião e para ir até São José dos Campos", explica sobre os patrocinadores, cuja maioria nem tem a ver com aviação e sim, são pessoas que acreditam na ideia dos garotos. Nessa edição, a Tucano gastou de 30 a 35 mil reais com a construção do exemplar e com a viagem de toda a equipe.
Além de questões bastante técnicas como tamanho e peso da aeronave e ponto de pouso devido a um bom sistema de freio, a Tucano ficou em primeiro lugar porque aprendeu com os seus erros. A equipe, que existe desde 2001 na Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais, resolveu conversar com os jurados no ano passado, para saber exatamente no que tinham perdido pontos e o poderiam melhorar, especialmente na pontuação do relatório. "O nosso objetivo é ter a maior pontuação possivel, então pensamos em todas as pontuações-bônus", diz. Em 2009, tinham ficado em 7º lugar na fase do relatório, e esse ano conseguiram chegar ao 2º, por uma diferença apenas de quatro pontos em relação ao 1º.
A preparação exigia bastante de Cardoso e dos outros futuros engenheiros. Como a equipe tem colegas de períodos diferentes, era à noite - quase todas - que conseguiam se encontrar. Às vezes, no seu tempo livre, Cardoso ainda aproveitava para pesquisar sobre algum tema para levar para o grupo na reunião. "A gente dormia no carro, comia na lanchonete do campus. Só tomava banho e voltava pra oficina", lembra sobre a reta final.
Porém, todas aquelas noites mal dormidas foram recompensadas. Os vencedores têm a chance de participar agora da competição mundial, que acontece entre abril e maio de 2011, na Geórgia. Só que agora o desafio aumenta, especialmente para o bolso. Sai 1.800 dólares por pessoa para ir até lá, mais o custo de levar o avião e todos os gastos no país. "A nossa estimativa de gastos está entre 50 e 60 mil reais", afirma Cardoso, que não deixa de reforçar a necessidade de patrocínio para brilharem no mundial.